A CAMINHO DA MUDANÇA

Os líderes da Frente Patriótica Unida (FPU) consideraram hoje que o regime angolano “tentou irracionalmente e vergonhosamente” determinar o rumo e a liderança da UNITA, “mas falhou” e os seus autores “estão a provar do seu próprio veneno”.

Para a FPU, plataforma política angolana da oposição, o acórdão 700/2021, do Tribunal Constitucional (TC), que anulou o XIII Congresso Ordinário da UNITA, realizado em 2019 e que elegeu Adalberto da Costa Júnior para a liderança, não matou (embora fosse essa a estratégia), mas reforçou o espírito da plataforma.

A UNITA, o maior partido da oposição que o MPLA (ainda) permite , realizou, entre 2 e 4 de Dezembro de 2021, o XIII Congresso Ordinário, por força do referido acórdão ordenado pelo MPLA e assinado pela sua sucursal TC, no qual Adalberto da Costa Júnior, único candidato, foi eleito presidente do partido.

Hoje, a FPU, que congrega a UNITA, o Bloco Democrático (BD) e o projecto político PRA-JA Servir Angola, foi relançada, em Luanda, e o Filomeno Vieira Lopes, presidente do BD, disse que o acórdão do TC “interrompeu o processo prático de estabelecimento da Frente, produzindo um acidente de percurso, mas não matou”.

O Presidente do MPLA deve já estar arrependido de não ter seguido a estratégia do seu querido e único herói permitido em Angola, Agostinha Neto, que determinou que o MPLA não iria perder tempo com julgamentos. Na altura, 27 de Maio de 1977, optou por massacrar milhares e milhares de angolanos.

“Antes, reforçou o espírito da Frente. A transformação do espírito em matéria, obriga-nos, a estar aqui e agora, mais resolutos e decididos, proibidos de falhar, para firmar, mais uma vez, a mudança que se impõe a Angola”, afirmou Filomeno Vieira Lopes.

O presidente do BD, o presidente da UNITA e líder da FPU, Adalberto da Costa Júnior, e o coordenador do PRA-JA Servir Angola, Abel Chivukuvuku, assinaram hoje a declaração de relançamento desta plataforma, proclamada em 5 de Outubro de 2021, em Luanda.

O desejo da FPU em alcançar o poder em 2022, no quadro das eleições gerais previstas para Agosto, foi reafirmado por Filomeno Vieira Lopes, considerando que “chegou o momento em que o partido no poder, caminhando de fragilidade em fragilidade, prepara a sua própria agonia e as condições para a sua própria substituição”.

Abel Chivukuvuku afirmou, na sua intervenção, que “irracionalmente” entre 2019 e 2021 o regime “tentou impedir um segmento não negligenciável” de cidadãos de poderem participar na vida política nacional “tentando inviabilizar” a legalização do projecto político.

“Mas aqui estamos de pedra e cal pronta para servir o país”, salientou.

Este ano, frisou, “mais uma vez irracionalmente e vergonhosamente o regime tentou determinar o rumo e a liderança de um partido com mais de 50 anos, a UNITA, falharam”. “Mais uma vez a UNITA provou maturidade, coesão e sentido de propósito”, referiu.

Segundo Abel Chivukuvuku, em 2021 continuaram as frustrações do povo angolano: “Do ponto de vista psico-moral o país hoje não tem fé, os cidadãos perderam a esperança, os jovens já não sonham e o pessimismo fez com que as pessoas vivessem o dia-a-dia e desistiram do futuro”.

“É nossa obrigação transformar este estado de espírito psico-moral em fé, em ânimo, sobretudo fazer com que os angolanos acreditem que somos nós mesmos que temos de construir o nosso país e a nossa felicidade”, sublinhou.

Já Adalberto da Costa Júnior, que proferiu o discurso alusivo à cerimónia, disse que a FPU “expôs o regime à sua real debilidade ao ponto de abraçar com desespero um acto de autêntico suicídio do Estado democrático e de Direito”.

“O acórdão 700/2021 proporcionou uma conclusão generalizada e um extraordinário consenso nacional: a urgente e absoluta necessidade da mudança de regime, porque está totalmente esgotado e a usar os tribunais para criar instabilidade política, social e económica”, apontou.

“Sim, a anulação do congresso da UNITA teve consequências internas e internacionais, no que respeita à falta de confiança nas instituições angolanas”, frisou líder da FPU.

A sociedade “compreendeu os riscos e reagiu fortemente, com imensa coragem, denunciando os atentados à Constituição da República de Angola e ao Direito”, assinalou Adalberto da Costa Júnior.

“Os autores e mandantes daquela iniciativa [acórdão do TC] estão hoje a provar do seu próprio veneno. Hoje, mais do que nunca, os angolanos mostram a sua firma decisão de mudança”, sustentou.

A FPU “é agregadora, é uma ferramenta para todos os angolanos que se sentem e sabem que chegou a hora de reconstruir o país, edificar uma sociedade mais justa e democrática, uma sociedade onde não existam bolsas de fome, onde não exista tanta miséria, corrupção, negócios escuros e tantas ordens superiores”, realçou.

“Nesta ampla frente para a alternância não existirão comités de especialidade ou ordens superiores para engavetar soluções, mas existe sim um desejo sincero de trabalhar com todos, todos os que queiram erguer um país que se realiza todos os dias, valorizando o trabalho e a transparência”, rematou Adalberto da Costa Júnior.

Folha 8 com Lusa

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